Em qualquer ambiente podemos encontrar uma grande diversidade de seres vivos. Entre eles, os insetos são animais muito comuns. Borboletas,
gafanhotos, besouros possuem um importante papel no equilíbrio do ambiente. Alguns insetos como os mosquitos, borrachudos e pernilongos
vivem em locais de mata ou mesmo em grandes cidades.
MAS POR QUE SERÁ QUE ESSES ANIMAIS TORNAM-SE PROBLEMAS PARA OS HUMANOS?
Nas grandes cidades, os mosquitos incomodam muita gente. Além disso, a transmissão de algumas doenças tem se alastrado por todo o país, causando
preocupação. Por que há uma grande quantidade desses insetos nas cidades? Como será que podemos controlar os mosquitos? Que tipos de
controles já foram realizados? Existem métodos eficientes que possam combatê-los? Para respondermos a essas perguntas temos que conhecer um pouco melhor o modo de vida desses insetos, saber em que ambientes vivem e como se reproduzem.
A Mata Atlântica é um dos ambientes nos quais podemos encontrar mosquitos. Nesse local encontramos uma vegetação exuberante e
diversas cachoeiras; muitos rios percorrem sua extensão até chegar ao mar.
É nas águas sem muita movimentação que as fêmeas dos mosquitos, como o pernilongo, botam seus ovos. Cada fêmea é capaz de colocar de 250 a 400 ovos em uma única postura. Os ovos transformam-se em larvas que permanecem dentro da água. Após 10 dias, mais ou menos, formam-se
os indivíduos adultos, capazes de voar.
Quando adultos, os machos sugam os sucos que passam pelo caule e folhas dos vegetais. Mas, no caso das fêmeas, é preciso um outro tipo de
alimentação para que elas desenvolvam tantos ovos. Sendo assim, sugam o sangue de alguns mamíferos.
Nas regiões de Mata Atlântica há uma grande quantidade de mamíferos que servem de fonte de alimento para esses insetos. São veados, macacos
e antas, entre outros. A Mata Atlântica é, hoje em dia, um dos ambientes
brasileiros mais ameaçados, devido à intervenção humana. Essa mata ocupava toda a costa brasileira, desde o Norte do país até o Sul. A
Figura 6 mostra a área que restou desse ambiente.
As expedições de Colombo e outros exploradores da América levaram informações para a Europa sobre a existência de florestas riquíssimas para a exploração de madeira. No século XVI, os portugueses que aqui chegaram logo iniciaram o cultivo de cana-de-açúcar em estados como Pernambuco e Bahia, o que diminuiu a quantidade de florestas. Com a colonização do
país e a formação de mais cidades, mais madeira foi sendo utilizada, contribuindo mais ainda para diminuição das florestas brasileiras. Assim, áreas naturais da Mata Atlântica foram devastadas para a ocupação humana.
Com as suas áreas naturais ocupadas, os mosquitos tinham dificuldade em obter seu alimento, pois a quantidade de mamíferos que era atacada por eles diminuiu. Entretanto, os mosquitos não sugam apenas o sangue de animais silvestres e, com a nossa invasão do seu ambiente, passaram também a sugar o sangue de humanos. Nas grandes cidades, há locais propícios para os mosquitos fazerem a sua desova. Produzimos uma quantidade imensa de lixo que pode acumular água de chuva, como garrafas, pneus e latas. Nesses locais, a água sem movimentação torna-se um excelente “berçário” para algumas espécies de mosquitos.
MOSQUITOS NAS CIDADES
As populações das grandes cidades sofrem com os mosquitos que aí vivem. As margens dos rios dessas cidades servem de criadouro para eles. Em
rios poluídos, o lixo que se deposita nas margens acumula água de chuva que servirá de local para a postura de ovos.
O incômodo causado pelas picadas desses insetos e a possibilidade de transmitirem doenças nos levaram a desenvolver estratégias para diminuir a sua quantidade, como, por exemplo, o uso de inseticidas. Com a aplicação do inseticida, a população de mosquitos diminuiu, mas não desapareceu. Ou seja, os mosquitos que morrem são sensíveis ao inseticida, enquanto os que ficam vivos são resistentes a esse produto. Nem todos os insetos de uma mesma população sofrem o mesmo efeito do inseticida aplicado no
ambiente: alguns morrem rapidamente, outros ficam debilitados e demoram para morrer, e há os que ficam debilitados, mas se recuperam e
sobrevivem. Por isso, dizemos que os mais resistentes acabam sobrevivendo à aplicação de um inseticida. Após algum tempo, os mosquitos resistentes se reproduzem e estão novamente em grande quantidade no ambiente.
Ao se reproduzirem, os insetos resistentes à aplicação do inseticida geram descendentes que também são resistentes como eles. Sendo assim,
uma população de mosquitos resistentes passa a dominar a região.
Se as aplicações continuarem em doses cada vez mais concentradas de inseticida, mosquitos cada vez mais resistentes sobrevivem e se reproduzem.
Além disso, o excesso de inseticida pode ser extremamente prejudicial para outros animais, podendo matá-los. Sem contar que a intoxicação
humana por esse produto pode desencadear problemas no sistema nervoso e respiratório. Estudos mostram que os mosquitos que vivem nas margens do Rio Pinheiros, em São Paulo, são resistentes a diversos tipos de inseticidas.
A resistência dos insetos aos inseticidas não é um fato recente. Em 1947, na Itália, a população local percebeu que a aplicação de DDT – um
inseticida altamente tóxico para muitos seres vivos e de ação prolongada no ambiente – não conseguia diminuir a quantidade de algumas pragas. Esse mesmo fato foi observado em diversas partes do mundo. A seleção de
indivíduos resistentes passou a ser um grande problema mundial, e o uso intensivo de inseticidas ocasionou uma contaminação crescente de solo, ar, água e animais.
Felizmente, o uso de inseticidas como o DDT é proibido mundialmente, pois ele fica ativo no ambiente por mais de 20 anos e seus efeitos sobre os seres vivos são mortais. Há ainda um controle sobre as quantidades e tipos de
inseticidas que podem ser usados para combater quaisquer tipos de pragas.
O QUE PODEMOS FAZER?
Os mosquitos podem ser uma praga e estão em todas as cidades. Alguns deles podem transmitir doenças como a dengue, febre amarela e malária.
Há uma série de medidas que podemos tomar para evitar a proliferação de mosquitos em regiões urbanas sem abusarmos do uso de inseticidas.
Entre elas podemos destacar:
– aterrar áreas construídas que acumulam muita água;
– evitar o acúmulo de água da chuva em vasos, pneus, latas, garrafas etc.;
– vedar fossas e caixas de água;
– usar mosquiteiros e telas de proteção nas janelas e portas;
– evitar o despejo de lixo em córregos e valas.
Em locais onde a quantidade de mosquitos era considerada muito grande, o uso indiscriminado de inseticida causou muitos problemas. Vamos analisar um caso real. Praia, sol, aquela diversão tão esperada e … borrachudos. Pois era assim, nas praias de Ilha Bela (litoral de São Paulo), em meados da década de 1970. A preocupação com os borrachudos ficou maior quando as pessoas evitaram fazer turismo pela região, incomodadas com as picadas. Para combater esses “invasores”, aplicou-se um inseticida muito poderoso nas praias, orla das matas e riachos onde as fêmeas desovavam: o BHC
– um tipo de DDT. Logo em seguida à aplicação, a quantidade de borrachudos diminuiu muito. Mas uma surpresa aguardava a todos. Uma
grande quantidade de camarões de água doce morreu, pois se alimentou dos ovos e larvas de borrachudos contaminados pelo BHC. Ou seja, os
borrachudos que sobreviveram se reproduziram em locais onde não havia sido aplicado o inseticida. Em pouco tempo, a quantidade de borrachudos aumentou novamente, devido à falta de animais que os comessem. Somente após a volta dos predadores (camarões) aos riachos é que a situação se normalizou.
Esse exemplo nos mostra a importância de conhecermos melhor as relações existentes entre os seres vivos de um ambiente. Quando interferimos no equilíbrio dessas populações, as conseqüências podem ser irreversíveis, ou um grande tempo é necessário para que tudo volte ao normal. É isso que se chama equilíbrio ecológico.
USANDO A NATUREZA NO COMBATE AOS MOSQUITOS
Pássaros, aranhas, lagartixas, ou mesmo outros insetos são os predadores mais comuns dos mosquitos e borrachudos na fase adulta. Camarões de água doce e peixes como o barrigudinho, o guaru e o apaiari se alimentam
naturalmente das larvas de mosquitos, o que favorece a diminuição do número de insetos adultos no ambiente. A destruição de ambientes naturais é um dos motivos pelos quais a população de mosquitos e borrachudos aumentou. Sem predadores, esses insetos estão livres para se reproduzirem.
Atualmente, vários locais estão investindo no controle biológico desses insetos, utilizando os predadores naturais e diminuindo os efeitos nocivos dos inseticidas.
A busca de soluções que tragam menor prejuízo para o ambiente deve ser a
maior preocupação no controle de pragas. Nos casos de lavouras ou de
criação de animais em larga escala, esse princípio deve ser sempre seguido, pois as conseqüências do uso inadequado de inseticidas ou qualquer outro tipo de veneno podem ser desastrosas para todos.